A produção de cacau pode ser um novo trunfo na expansão da fronteira agrícola na Amazônia. Essa perspectiva foi lançada durante audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), nesta terça-feira (22), sobre o potencial de exploração da cultura no Pará. O alto índice de produtividade apresentado por hectare e o fato de ser uma espécie nativa da Amazônia credenciariam o cacau como atividade agrícola com viabilidade econômica e sustentabilidade ambiental, que vem sendo usada, inclusive, em reflorestamentos de áreas declaradas como reserva legal.
Essa vantagem comparativa do cacau do Pará em relação ao da Bahia foi apresentada pelo produtor Francisco Alberto de Castro, representante do pólo cacaueiro da Transamazônica e da Federação da Agricultura do Estado do Pará (Faepa). Segundo informou, a produtividade do cacau paraense é de mil quilos por hectare, o que dá uma rentabilidade de R$ 6 mil. Na Bahia, o rendimento por hectare situa-se em 300 quilos, o que seria insuficiente até para cobrir os custos de produção.
Ciente das dificuldades enfrentadas pelos cacaueiros baianos, assolados pelo endividamento e pela praga da "vassoura de bruxa", Francisco de Castro não defende o abandono desses produtores, mas reivindica maiores incentivos do governo federal à lavoura paraense. As principais deficiências enfrentadas no Pará, conforme assinalou, são carências de técnicos da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e de produção de sementes.
Essas falhas foram reconhecidas pelo diretor da Ceplac, Jay Wallace da Silva e Mota, que informou já ter solicitado a contratação temporária de técnicos e a realização de concurso em 2011 - 23 anos após a última seleção pública - para pesquisador e extensionista. Apesar dessas dificuldades, Jay Wallace também aposta no potencial do Pará para despontar no cenário mundial de produção de cacau, dominado hoje pela África. O estado já tem 500 mil hectares dedicados ao cacau só ao longo da Transamazônica.
- Pará e Rondônia estão garantindo o crescimento do cacau no país, hoje. A distribuição de 15 milhões de sementes pela Ceplac no Pará, que, em 2009, respondeu por 25% da produção brasileira, está permitindo a expansão anual de 10 a 12 mil hectares na área de cultivo no estado - afirmou.
O diretor da Ceplac lamentou que o Brasil tenha de importar, anualmente, 50 a 90 mil toneladas de cacau. Além da possibilidade de desmobilização do parque industrial de beneficiamento já instalado, Jay Wallace advertiu que esse cenário representa queima de divisas e risco de "importação" de pragas
do cacau trazido da África e da Ásia. Conforme argumentou, o esforço para ampliar a capacidade de produção também vai fortalecer o processo de industrialização.
*Simone Franco / Agência Senado
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