O Brasil se posiciona entre o sexto e sétimo lugares no ranking dos maiores
produtores mundiais, dependendo do volume produzido mundialmente. A Costa do
Marfim, maior produtor mundial, deve colher uma safra de 1,41 milhão de
toneladas na safra 2011/2012, que começa no próximo mês de outubro e se encerra
em setembro de 2013. No mesmo período, a oferta mundial de cacau deve somar 3,9
milhões de toneladas, o que, segundo a International Cocoa Organization (Icco),
deve gerar um deficit de 43.000 toneladas entre a oferta e a demanda. Apesar da
retração nos países desenvolvidos, o aumento do consumo de chocolate nos países
emergentes mantém a demanda aquecida e dá sustentação aos preços da commodity.
Bahia
Na Bahia, a safra está estimada em 135.000 toneladas para
este ano, alta de 6,2% quando comparada ao período anterior. No Estado, símbolo
da produção de cacau, os esforços no combate ao fungo causador da doença
vassoura de bruxa surtiram efeito e a produção começa a ser retomada. A Ceplac
tem tido papel fundamental nessa retomada, com destaque para um projeto de
conservação produtiva que visa capacitar produtores para o uso de tecnologias
sustentáveis.
Pará
O Pará, Estado onde o
cultivo cresce mais rápido no país, registra o triplo da produtividade da
Bahia.
O Pará está descobrindo que tem vocação natural, além da castanha
é um símbolo cativo do Pará, mas também para cacau.
O cultivo do cacau há muito que passa por uma crise sem
precedência, tanto a nível de Brasil como na Bahia o maior
produtor, onde particularmente passa por
uma fase delicada e de incertezas . Um
pouco mais de vinte anos que enfrenta problemas sanitários com a vassoura-de-bruxa.
Com produção estagnada, importações de
amêndoas e seus derivados em alta, e consumo crescente de chocolate, a
indústria nacional tem tido dificuldades
para se abastecer de matéria-prima. É
nesse cenário que desponta o Pará, acelerando o plano ambicioso de se tornar uma grande fronteira agrícola no cultivo do
cacau. A meta é dobrar a produção nos próximos oito anos, afirma Hildegardo
Nunes, secretário de Estado de Agricultura do Pará.
Cacau aos poucos volta à Amazônia
O Brasil, que nas últimas décadas viu a produção interna de
cacau despencar, por conta principalmente da alta incidência do fungo que causa
a vassoura de bruxa, e pela forma como os produtores conduzem o
processo , hoje ensaia um movimento de recuperação que já na safra atual pode
somar 200.000 toneladas, uma alta de 17% em comparação ao
período anterior. Além da retomada da safra na Bahia, que responde por 70% da
colheita nacional, o Pará, que hoje se destaca como segundo maior produtor do
país, tem grande potencial de expansão para a cultura. É no Pará onde a
produção mais cresce no Brasil. Avalia *Thomas Hartmann, analista da TH
Consultoria. Ainda Segundo ele, a Bahia tem grande importância histórica para o
cacau, mas é no Pará que está o futuro da amêndoa.
*A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac)
do Pará apurou, neste ano, uma safra parcial de 76 mil toneladas de cacau e a previsão
até o final da colheita é alcançar 85 mil toneladas da amêndoa, atrás apenas da
Bahia, com 130 mil toneladas. Segundo Moisés moreira dos Santos, superintendente da Ceplac
no Estado, o plano do governo paraense é ambicioso. Vamos ajudar o Brasil a
chegar à autossuficiência da matéria-prima, diz.
*O planejamento estratégico aponta que o Estado vai colher
230 mil toneladas de amêndoas por ano até 2022, superando a produção baiana.
Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da cacauicultura (
PDCPC).
Desde outubro do ano passado, a cultura ganhou impulso com
o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura, lançado
pelo governo
do Estado em parceria com a Ceplac. Os recursos de cerca de R$ 2 milhões por
ano do Fundo de Apoio à Cacauicultura Paraense (Funcacau) têm garantido a
instalação de campos experimentais e pesquisas de manejo. De acordo com Nunes,
a produtividade média no Pará é de 900 quilos de amêndoa por hectare, o triplo
da produtividade baiana, de 300 quilos por hectare. Mas a meta é atingir 1,3
mil quilos por hectare, como média no Estado, afirma.
Não se trata de um delírio amazônico: ele cita o exemplo do município de Medicilândia,
a quase mil quilômetros da capital, campeão nacional em produtividade de cacau,
com média de 1,7 mil quilos por hectare.
Estimulo ao sistema
Agroflorestal
Para intensificar a produção em 2012, estão sendo
distribuídos 18 milhões de sementes, além do investimento em capacitação dos
produtores em sistemas agroflorestais, para melhorar a qualidade da amêndoa e
obter produtividade crescente. O clima e o solo favoráveis colocam a cultura
como uma alternativa agrícola rural sustentável na região. Áreas de pastagens
degradadas estão sendo recuperadas com o cultivo consorciado a espécies florestais.
O cacau alia a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento
econômico e social, diz Santos, da Ceplac.
Base Familiar
Diferente do que ocorreu na Bahia, a cultura do cacau no Pará tem se baseado
na agricultura familiar. Famílias que cultivam a amêndoa em pequenas
propriedades de dez hectares alcançam uma renda anual de até R$ 35 mil.
Atualmente, há cerca de 15 mil produtores
no Estado, que geram cerca de 50 mil empregos diretos e indiretos.
*Gabriela, aos 78 anos, divide com nove meeiros os lucros de
sua lavoura O agricultor Antonio Teixeira de Lira foi um dos primeiros a chegar
à região, em 1970. Vim sem destino certo e meu primeiro trabalho foi a A predominância da mão de obra familiar é uma
forte característica das lavouras do norte do país. Nessa região, a sucessão
familiar é comum e os filhos dos proprietários de terras ou assumem a gestão
das fazendas junto com os pais ou
adquirem seus próprios lotes. É o caso de Ivan Gotardo, de 22 anos, que já tem,
há dois anos, sua própria roça de cacau, com 10 mil pés. Seu irmão, Ivanilson,
de 17 anos, também formou sua plantação em 2011, com 15 mil pés. Ambos, além de
cuidarem do manejo de suas lavouras, também trabalham nas roças do pai, o
agricultor Valmir Gotardo, que foi do Paraná*para Medicilândia em 1984 e hoje
mantém 72 hectares, onde cultiva 72 mil pés de cacau. Neste ano, estamos com
uma produtividade bastante alta, de 2 quilos por pé de cacau, diz Valmir. Uma
produtividade que chama a atenção, já que, em geral, o rendimento no Estado se
situa, em média, em 1 quilo por árvore, enquanto na Bahia a média baixa para
300 gramas por pé.
A Ceplac e o governo estimam que 1,5 mil novos
produtores recebam incentivos até
2013. Além disso, as autoridades querem que a amêndoa seja processada no Estado,
em vez de migrar para as indústrias de outras regiões. Esperamos, em breve, a
instalação de fábricas que possam verticalizar a produção do Pará, diz Santos.
A indústria, por sua vez, tem respondido positivamente aos planos do governo.
A Cargill, maior processadora de cacau da América Latina, anunciará neste ano
um projeto em parceria com a ONG The
Nature Conservancy para apoiar pequenos produtores. Rodrigo Melo, gerente
de originação e risco da Cargill no Brasil, diz que tem acompanhado o crescimento
da safra
no Pará. É muito intenso esse movimento, afirma Melo. Segundo Miguel Sieh,
diretor da unidade de negócio de cacau e chocolate da Cargill, a escassez da
matéria-prima é um problema para a indústria. Na década de 1980, o Brasil
produzia 400 toneladas de amêndoa e até exportava, diz Sieh. A expectativa é de
que o Pará consiga suprir em até cinco anos a
matéria-prima que hoje é importada de países como Gana, Costa do Marfim e Indonésia.
A importância da cultura é tão grande que o
Estado já tem sua própria
capital do cacau: “A nova Ilhéus”

O município de Medicilândia, situado às margens da
RodoviaTransamazônica, onde 70% da população, estimada em 27 mil habitantes, reside
na área rural.
Medicilândia conta hoje com 27 milhões de pés de cacau, ou
1.000 pés por habitante, e há mais de três décadas é o destino certo para quem
quer se aventurar na produção da amêndoa. Com infraestrutura precária, economia
em desenvolvimento e PIB per capita de R$ 4.300, o pequeno município, fundado
em maio de 1989, parece ter as mesmas características da Ilhéus do início do
século passado: terra boa e agricultores ávidos por riqueza.
Na década de 1970, desenvolvemos um programa para que o
cacau retornasse à sua origem, que é a região amazônica, e foi elaborado um material
híbrido altamente produtivo
para ser cultivado no Pará, diz Paulo Henrique Fernandes Santos, coordenador da
área de pesquisa de cacau da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(Ceplac) de Altamira (PA). Ivan e Ivanilson, de 22 e 17 anos, já têm suas
próprias lavouras em Medicilândia
E, assim como aconteceu na Bahia no
final do século XIX, o governo brasileiro doava terras para quem quisesse
plantar cacau no Pará. Em meados da década de 1970, quem ganhasse um lote de
100 hectares e o desmatasse em, no máximo, um ano recebia outro do mesmo
tamanho. Foi dessa maneira que, aos poucos, a região antes ocupada por
exemplares nativos foi cedendo espaço à
cacauicultura. E hoje na terra roxa do Pará o cacau convive
harmoniosamente com espécies nativas.
A recomendação da Ceplac é que as lavouras sejam cultivadas
junto com essências nativas, como mogno, ipê, cumaru, andiroba, jatobá, entre
outras espécies da Amazônia, que serão usadas para o sombreamento permanente
das lavouras.
Produção no Pará – Lucro reinvestido.
“A colheita no Pará
pode ser realizada durante o ano inteiro”
Na região de Altamira, maior polo de produção do Estado que contempla os municípios de Altamira,
Vitória do Xingu, Medicilândia e Brasil Novo , existem cerca de 40.000 hectares
cultivados com cacau, que devem render neste ano uma safra de 53.000 toneladas.
No Pará, a área destinada ao cultivo cresce todo ano. Temos
nesta safra uma demanda de 20 milhões de sementes, mas nossa capacidade de
produção é de apenas 14 milhões de unidades, diz Santos. Segundo projeções da Ceplac, 16.000
novos hectares devem ser incorporados ao cultivo no Estado. A produção de 2012
está estimada em 85.000 toneladas, alta de 30,7% em relação à safra de 2011.
Resultado do esforço conjunto dos agricultores, que têm por hábito investir na
expansão das lavouras quase todo o lucro que a cultura lhes proporciona. A
produtora Gabriela Soares, hoje com 78 anos, chegou ao Pará em 1980 e começou a
plantar cacau em 1982. Atualmente, mantêm 42 mil pés produzindo e está fazendo
um trabalho com os técnicos da Ceplac para melhorar a qualidade e a
produtividade, em torno de 1 quilo por hectare. Plantei 6 mil novos pés em
janeiro de 2010 e vou plantar mais 3 mil pés neste ano, conta Gabriela, que
divide a colheita com os sete meeiros que trabalham em sua propriedade. Acho
justo eu ganhar e eles também, diz.

Cacau Orgânico
No Pará, as cotações se situam entre R$ 4,70 e R$ 6 por
quilo, menores que as do ano passado, mas remuneradoras.
Para a agricultora Maria Concebida Maciel Tabosa, que planta cacau orgânico, os
preços estão acima de R$ 6 por quilo de produto certificado. Vendemos parte de
nossa produção para a Natura, exportamos um pouco para a Suíça e o restante
vendemos no mercado interno, diz Maria, que chegou ao Pará em 1974 e hoje
mantém 350 hectares de terras na região, dos quais cultiva 80 hectares com
cacau orgânico. Seus oito filhos é que tomam conta das lavouras. Neste ano,
plantamos mais 2.500 pés. O plano é continuar investindo em terras e lavouras,
diz a agricultora de 63 anos, que mantém 19 meeiros em sua propriedade. Nas
barcaças, o cacau seca antes de ser transportado.